Gulas@A_COZINHA

Quando um/a maratonista inicia a sua vereda, tem duas escolhas, muitas vezes inconscientes: Chegar ao fim ou cortar a meta. São ambas escolhas, são ambas possíveis mas são ambas diferentes entre si, embora não pareçam... 
Chegar ao fim tem implícita uma reação a um desafio. Só isso. E com um só resultado possível. Chegar. Já o cortar da meta encerra em si toda a determinação de um/a atleta em ser o mais rápido, voar mais alto e ficar na história. 
António Loureiro quer cortar uma meta todos os dias. E por isso já entrou para a história vimaranense, portuguesa e internacional. Um verdadeiro atleta.
A GULA
O Menu Nostalgia, composto por 8 momentos (€120) celebra a alquimia entre os sabores compostos de Inverno e a sua transformação em caldos encorpados, sabores quentes de conforto e a riqueza da cozinha local, com predominância de carnes de caça, tubérculos e brássicas da época mas também peixes densos e maturados, como o bacalhau ou a enguia. 
Faço a ponte para ambos porque foram a minha Gula. A enguia aromatizada com trufa, servida num micro bolo do caco e o "Bacalhau & Bacalhau" composto por sames de bacalhau, língua e tapioca avolumados por uma sopa de peixe que envolveu todas as várias texturas do gadideo. 
Nota de Gula para os restantes pratos de peixe que mostraram o surpreendente que é a cozinha de proximidade do António. 
Uma tartellete de lampreia com ervilhas e uma tranche de robalo de mar com amêijoa, num bulhão pato com coentros e um brioche a amparar os sucos deste mar.

A GULOSEIMA
Para este mimo, e excepcionalmente, o que tenho de Guloseimas não passa por comida. Passa por personalidade da cozinha e posicionamento no mundo em que vivemos atualmente. 
A Cozinha tem um compromisso sério com a pegada carbónica que quer deixar no ambiente sendo precursora de uma Cozinha de desperdício próximo de zero, com primazia pela relação de proximidade com os produtores locais e critérios bem defendidos e padronizados de respeito, compromisso e responsabilidade na escolha dos melhores produtores e fornecedores locais. 
Uma Cozinha socialmente responsável, com um maratonista que quer cortar a meta e por isso vai ainda mais longe. O projeto tem vindo a ser reconhecido pelo trabalho em prol do desenvolvimento sustentável. São detentores do galardão Green key pelas boas práticas e são uma das 50 Empresas mundiais, que pela contribuição para um Sistema alimentar mais sustentável, ganharam a competição “Good Food for All” promovida pelas Nações Unidas. 
Um orgulho e uma inspiração para os seus pares da restauração, para os comensais que nas suas mesas comem e para o país que sai distinguido de toda esta prestação.

O GULAG
Para uma experiência de finedining, a cortesia de todo o staff deverá ser inexcedível. Pequenos mimos são altamente valorizados e a exigência dos comensais a isso o predispõe. Estimo que em muitas experiências Michelin que tenho tido, o chef venha à mesa cumprimentar e trocar algumas palavras.

Compreendo que em alguns casos o chef não está e por isso não se pode pedir o que não há. Não compreendo, por isso, que um chef vá ao seu restaurante, mesmo de passagem porque tem um compromisso assumido com um evento (neste caso um jantar de lampreia em Melgaço a 4 mãos com João Rodrigues) e não venha cumprimentar os comensais que têm no seu restaurante. 30 segundos que seja. Um Bom Dia e Obrigado! Não é cortez. Aconteceu é foi confirmado pelo staff que o chef tinha estado no restaurante durante o almoço. Pronto, já está exorcizado! 

É uma situação que acredito pontual e ponta do icebergue numa experiência autêntica e ampla de surpresas que nos envolveu na personalidade deste chef  "nostálgico" que está a trilhar um percurso muito válido no sentido de combater alguns vícios da cozinha, nomeadamente o desperdício alimentar.

Bem haja por isso! 
@gulasdosardinha

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