Gulas@FIFTY_SECONDS

Alegra-me o estômago assistir à metamorfose do nosso país. Sendo que passar de uma lagarta gorda é comilona para uma linda borboleta colorida não significa necessariamente uma metáfora de patinho feio. 

Mas de facto éramos um povo dentro de uma crisálida e mais cego do que somos agora (no prato). Eu que adoro o tradicional português tenho que dar a palmatória à mão e bater umas reguadas nos velhos do Restelo. Vivam os chefs estrangeiros! (nunca pensei escrever isto...) 

A GULA 
Martin Berasategui seguiu as pisadas de Luther King ou de Scorsese como um revolucionário na sua área. É Filipe Carvalho soube colocar o pé nas pegadas deixadas pelo mestre Obi-Wan e melhor que ninguém faz subir a estrela Michelin a um patamar à mercê da segunda. 

Podia colocar quase toda a experiência na Gula mas não era justo para a Gulodice pelo que vou coroar o salmonete com escamas crocantes, escusado por uma cevadinha de açafrão e limão, emparelhado com gamba do Algarve e tudo regado com jus do salmonete. Abençoado poema! Prato sustentável pelo aproveitamento da pele, das escamas e do fígado do animal. A cevadinha com textura firme e a estaleca do açafrão cítrico. 

Um equilibro subtil que aconpanhei não com 1 nem 2 mas com 3 vinhos brancos dos quais destaco Dona Fátima, um vinho da Mantz Wines feito exclusivamente com a quase extinta uva Jampal. Elegante, com uma boa acidez na boca e complexo pela proximidade marítima do Atlântico e ao mesmo tempo as influências ribeiras de Sintra.

A GULOSEIMA 
A Brandade de Bacalhau logo ao início foi a escalada até aos 150 metros de altura da torre Vasco da Gama. Para quem não sabe (eu não sabia!) Brandade é uma emulsão de bacalhau salgado, azeite e geralmente batata. 

Aqui era frita com um polme fino e crocante e um bacalhau de exímia cura no seu interior. Tenho também ganas por voltar a provar o mil folhas caramelizado de foie gras, maçã verde e enguia pela ligação de sabores aparentemente tão polarizados. 

O GULAG
Claro que os 685 euros para 2 pessoas não matam mas desmoraliza muito... Fiquei a chá e bolachas de água e sal o resto do mês mas pudesse lá voltar e não me cansava. 

Aqui o preço é alto e exclusivo como a vista e nem sequer se pode chamar justo pelo que se come mas é certamente pela técnica, exclusividade e elegância do espaço e savoir faire da equipa de cozinha. 

Desta vez tenho que dar o Gulag a mim mesmo e enfrentar o gelo siberiano da bancarrota temporária para este tipo de aventuras. 

@peixugal
@gulasdosardinha

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