Gulas@BONBON

O BonBon já era BonBon antes de ser este BonBon. Não sei como era o outro BonBon mas este é Bon mas Bom..

E espero que o seja por muitos mais anos e para muito mais turistas que estejam desiludidos com o algarve litoral nesta altura do ano. Não percam a esperança! Há luz no Carvoeiro.

Um momento de Amor para com a comida, de cumplicidade para com o serviço e de empatia para com o cheff Louis Anjos e também para com o mentor e proprietário do projeto, o simpático e afável Nuno Diogo e o seu sotaque quente algarvio.

A visita começou mal já que ninguém estava atento à porta quando entramos (que num espaço destes não é normal que assim o seja) e ao entrar cai um livro da mesa de entrada para o chão em estrondo pouco auspicioso...

Enfim, felizmente "eu cá não sou supersticioso", como canta o artista, e a partir daí foi sempre a subir.

Um amouse bouche de falsa azeitona e falsa cenoura acompanhado de um prato de amendoins em que tambem esse tinha dois falsos amendoins feitos de mousse de frango mas semelhantes aos verdadeiros, numa receita camaleónica muito bem conseguida (que não posso mostrar porque o sumitico servidor do Zomato só me deixa publicar 10 fotos...!). Acompanhou com um Colheita Tardia "Olho no Pé 2007".


Seguiu-se um momento dedicado ao bacalhau, com um pastel de massa tenra feito com sames de bacalhau e mini bolas de berlim com recheio de caras de bacalhau. O pastel apresenta o recheio com o molho da caldeirada enquanto a bola era mais seca, mas igualmente saborosa. Este prato teve pairing com um verde muito mineral da zona minhota e que infelizmente não retive o nome.

Antes do primeiro momento "oficial" do menu de degustação, provámos uns mexilhões com mousse de coentros com uma frescura e sabor vibrantes, salinos e com toda a delicadeza do marisco fresco e praticamente cru.

Seguiu-se a primeira ode de uma composição musical que teve tanto de clássica como de contemporânea, moderna e experimental. Um toro de atum com tomate e manjericão e um lavagante azul com laminas de beterraba, açafrão e tangerina, ambos com harmonização a cargo de um Luis Pato Baga 1992. O lavagante no ponto ideal de cozedura: Cru. Ou quase... O vinho com uma agulha ligeira da Baga escudou na perfeição o marisco e deu-lhe ainda mais frescura.


Próximo degrau na partitura foi uma feijoada de bivalves com alga e ovas de polvo raladas. Detalhe que as ovas de polvo são secas em salga pelo cheff no próprio restaurante, num processo semelhante ao tradicional dos pescadores do sotavento algarvio. Estava soberba.

Ainda não retemperado da onda que me caiu em cima, logo vem outra que trazia na crista um salmonete cozido a baixa temperatura com o molho dos seus fígados acompanhado por uma esmagada de tomate com presunto de bolota. O Salmonete, com aquele aroma e sabor intensos a mar, domesticou-se nas mãos do cheff Louis Anjos tornando-se suave, equilibrado e de sabor harmonioso, só amplificado pelo extraordinário molho dos fígados que até hoje apenas a Dona Camila, mãe de um amigo meu de Vilamoura, o fazia assim tão bem (ou melhor...).



Entretanto os vinhos tambem evoluiram e a estrofe sinfónica de brancos chegou ao fim com um Solo Único 2016.

Nas carnes não há grande surpresa adicional que subisse a fasquia, que já estava alta - e até porque sou mais um homem de peixes - com a presa de porco com pezinhos de coentrada e um lombo de novilho de Vaca Arouquesa de mão dada com um pedaço de lingua do mesmo animal, igualmente soberbos, com acompanhamentos vegetais tendo o cuidado de serem da zona de origem das carnes, cumprindo o preceito de integridade da região e sazonalidade dos legumes.



Os vinhos tintos variaram do Douro e Dão para o Alentejo, entre colheitas já esgotadas e que nos foram dadas a provar por circunstâncias muito particulares (sitio certo à hora certa...) até vinhos mais encorpados mas sempre excelentes interpretações no pairing feito pelo Nuno Diogo.



No final, um chorrilho de sobremesas que a meu ver fecharam bem esta sinfonia mas - abordar com pouca importância - notei que algumas tinham apontamentos um pouco monótonos no sabor como foi o caso da esponja de coco ou de uma massa de amêndoa do algarve demasiado saudável face à doçura que, a meu ver, deveria ter.

Para rematar, três Bon Bons de Porto com chocolate branco, leite e preto, acompanhados de uma bica portuguesa, com certeza!

Depois de tudo isto, e de uns bon bons momentos passados com a minha mulher nesta mesa do Bon Bon, descobri que a sorte também se constroi, com muito trabalho, pesquisa e experimentação.

Fiquei na mesa 17.
17 foi o meu primeiro número de aluno na escola preparatória. "Eu cá não sou supersticioso" mas que foi um número de sorte numa auspiciosa noite de Verão, foi...

@gulasdosardinha

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